sábado, 17 de outubro de 2015



Christian Fittipaldi Filha USC (Foto: Getty Images)Christian Fittipaldi comenta importância da filha: "Me traz energia para continuar seguindo em frente" (Foto: Getty Images)
Christian Fittipaldi carrega nas costas um nome tradicional do automobilismo mundial. Filho de Wilson Fittipaldi Jr. e sobrinho de Emerson Fittipaldi, o piloto de 44 anos já guiou praticamente tudo que tenha quatro rodas. Dos monopostos da Fórmula 1 e Fórmula Indy, a carros de turismo da Stock Car e da Nascar, passando por caminhões da Fórmula Truck, Christian é um verdadeiro andarilho no mundo do esporte a motor. Agora, em um dos melhores momentos da carreira, o brasileiro é destaque novamente no automobilismo norte-americano, tendo faturado em 2014 e 2015 o bicampeonato da USC (United SportsCar), categoria de protótipos, famosa pelas corridas longas, e que tem como principal etapa as tradicionais 24 Horas de Daytona.
Christian Fittipaldi em ação na United SportsCar, nos Estados Unidos (Foto: José Mário Dias / Divulgação)Christian Fittipaldi em ação na United SportsCar, nos Estados Unidos (Foto: José Mário Dias / Divulgação)
Christian conquistou o segundo título na USC no último dia 3 de outubro, após conturbada prova disputada na pista de Road Atlanta, onde o brasileiro, dividindo um Corvette com o português João Barbosa e o francês Sebastien Bourdais, foi terceiro na classificação geral da corrida, primeiro na categoria Prototype. Em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM, ele revelou detalhes de como voltou ao automobilismo americano, falou da cobrança da filha pequena por bons resultados, relembrou os tempos de Fórmula 1 e Fórmula Indy, comentou as dificuldades de competir na Stock Car, e ressaltou como o acúmulo de diferentes experiências ao longo da carreira ainda o ajuda a se adaptar e permanecer competitivo no automobilismo.


- Estou em um momento muito bom, não só na careira, mas pessoalmente também. Estou muito bem casado, com uma filha linda, que me cobra toda vez que chego em casa depois das corridas, "papai onde está o prêmio?". Quando trago o troféu para casa ela fica muito feliz, esse é o tipo de coisa que me traz a energia para continuar seguindo em frente - brincou.
João Barbosa e Christian Fittipaldi com os troféus da United SportsCar (Foto: José Mário Dias / Divulgação)João Barbosa e Christian Fittipaldi com os troféus da United SportsCar (Foto: José Mário Dias / Divulgação)

GLOBOESPORTE.COM: Como surgiu o convite para voltar a competir nos EUA?
Christian Fittipaldi: No fim de 2010, recebi um e-mail de um ex-engenheiro meu dos tempos de Fórmula Indy. Ele me disse que agora era diretor técnico em uma equipe da USC, e queria contar comigo para guiar nas 24 Horas de Daytona, que aconteceriam no começo de 2011. Prontamente aceitei, e no ano seguinte estava lá disputando a corrida, que terminei na terceira colocação. O convite se repetiu no final daquele ano, e em 2012 voltei a Daytona, desta vez fui o quinto colocado. No final de 2012 surgiu o convite definitivo para correr a temporada inteira. Eu estava viajando quando recebi a ligação, voltei para São Paulo, e na mesma noite já estava voando para os EUA para assinar o contrato.
O que o levou a voltar a morar nos EUA? De que maneira essa decisão interfere no desempenho nas pistas?
Na verdade eu já tinha em mente voltar para os EUA, antes mesmo de aceitar a proposta da USC. Estava com uma filha recém nascida, portanto, preferi esperar ela crescer um pouco antes de arrumar as malas definitivamente para os EUA. Em 2013, corri a primeira temporada completa da USC no esquema "bate-volta" Brasil-EUA, mas isso gera um desgaste muito grande por conta das viagens e do fuso horário. Morando nos EUA, posso me deslocar com mais facilidade, e acabo não ficando tão cansado nos finais de semana de corrida.
Christian Fittipaldi em ação na United SportsCar, nos Estados Unidos (Foto: José Mário Dias / Divulgação)Christian Fittipaldi em ação na United SportsCar, nos Estados Unidos (Foto: José Mário Dias / Divulgação)

Como você vê o posicionamento da USC na atual conjuntura do automobilismo norte-americano?
Nós estamos atrás apenas da Nascar e da Fórmula Indy. São estilos de corrida diferentes, então existem fãs para todos os gostos, até porque, as categorias não competem entre si. Assim como na Indy, o nosso campeonato conta com alguns veteranos que ainda estão "dando no couro". Dixon, Montoya, Castroneves, Kanaan, todos ainda estão andando muito bem, não faria sentido mandar os caras embora. Mas creio que uma renovação natural deva acontecer em breve no automobilismo dos EUA.
Como foi a adaptação ao carro da USC?
Não digo que foi fácil, mas "menos difícil". Eu já corri com carros muito diferentes ao longo de toda a minha carreira, então conseguiu acumular uma experiência muito grande, e entender detalhes que me ajudam até hoje. Há alguns anos disputei duas provas na Fórmula Truck, sendo que nunca tinha guiado um caminhão na vida. Na primeira corrida fui quinto no grid, e na segunda fiz a pole-position. A bagagem que acumulei me ajuda demais.
Christian Fittipaldi fala sobre adaptação aos carros de turismo (Foto: José Mario Dias)Christian Fittipaldi fala sobre adaptação aos carros de turismo (Foto: José Mario Dias)

Considera o bicampeonato (2014-2015) da USC como um renascimento na carreira?
Sem dúvida. Estou em um momento muito bom, não só na careira, mas pessoalmente também. Estou muito bem casado, com uma filha linda, que me cobra toda vez que chego em casa depois das corridas, "papai onde está o prêmio?". Quando trago o troféu para casa ela fica muito feliz, esse é o tipo de coisa que me traz a energia para continuar seguindo em frente. Eu amo guiar, amo o que faço. Não sou um cara tarado por carros, mas gosto de acelerar até o limite, gosto da adrenalina.
Christian Fittipaldi com a filha e a esposa nos Estados Unidos (Foto: José Mario Dias)Christian Fittipaldi com a filha e a esposa nos Estados Unidos (Foto: José Mario Dias)

Como resumiria a temporada de 2015?
Sinceramente, 2014 foi mais consistente, mas 2015 foi mais emocionante. Chegamos à última prova brigando pelo título, mas seis pontos atrás dos líderes. Eu estava confiante em ganhar a corrida, mas não tão certo quanto ao campeonato. Durante a prova, o título mudou de mãos umas quatro ou cinco vezes, mas no final vencemos a corrida na nossa categoria, e contamos com a falta de sorte dos adversários diretos.
João Barbosa e Christian Fittipaldi com os troféus da United SportsCar (Foto: José Mario Dias)João Barbosa e Christian Fittipaldi com os troféus da United SportsCar (Foto: José Mario Dias)
Sente saudades da Fórmula 1? De guiar monopostos?
Não, nenhuma. Foi uma ótima fase da minha vida, mas que já passou. Saí muito novo da Fórmula 1 para os EUA. Quando assinei com a Newman/Haas na Fórmula Indy, não imaginei que fosse ficar por tanto tempo lá. Achei que iria fazer um ano e voltar para a Fórmula 1. Não foi o que aconteceu. Construí uma longa carreira na Indy, guiando para uma equipe de ponta. Depois que saí da categoria, fui chamado umas seis vezes para correr as 500 Milhas de Indianápolis, mas decidi não aceitar. Não estava mais preparado para competir em alto nível com os que estavam por lá correndo a temporada completa. Se não é pra fazer direito, prefiro não fazer. Mas é claro, se me chamarem para dar uma voltinha em um Fórmula 1, eu não negaria.
Christian Fittipaldi Fórmula 1 F-1 1994 (Foto: Getty Images)Christian ao volante da Footwork Ford na F1 em 1994. Foram seis pontos conquistados naquele ano (Foto: Getty Images)

Tem acompanhado a atual temporada da Fórmula 1?
Sim. Mais uma vez a Mercedes está sendo dominante, mas em 2015 vimos a Ferrari vencer corridas não só na estratégia, mas na velocidade também. Estou muito surpreso com os dois jovens da Toro Rosso, (Carlos) Sainz e (Max) Verstappen tem feito um campeonato muito consistente. O mesmo vale para o Felipe Nasr, que conseguiu ótimos resultados com a Sauber, logo no primeiro ano dele na categoria.
Tem acompanhado a carreira do Pietro Fittipaldi?
Sim, à distância. O Pietro fez um caminho diferente, saindo da Nascar para os monopostos. Agora está na Fórmula 3 Europeia, que é uma das mais competitiva em todo o mundo. Ele aprendeu muito durante este ano, e agora precisa usar essa experiência acumulada para se dar bem na temporada do ano que vem, e construir o caminho dele rumo à Fórmula 1. O Pietro é muito centrado, e tem uma base sólida por trás, isso é fundamental.
Mesmo morando nos EUA, como você enxerga o automobilismo brasileiro?
A Stock Car é uma categoria muito boa, difícil, e extremamente competitiva. Acho que as pessoas não tem a percepção do quão difícil é. São praticamente 25 carros andando no mesmo segundo, em pistas com voltas de mais de um minuto. As corridas são difíceis, a categoria vive uma fase muito boa tecnicamente. Da questão comercial não posso dar opinião, pois não tenho conhecimento, seria leviano da minha parte. A Fórmula 3, por outro lado, me parece uma categoria mais organizada nos últimos dois anos. O Pedrinho Piquet (bicampeão da categoria) não tem mais o que fazer aqui, agora precisa ir para fora do país, mesmo sendo muito novinho.
Stock Car: Christian Fittipaldi posa ao lado do carro do Palmeiras (Foto: Rafael Gagliano / Stock Car)Christian guiou carro com as cores do Palmeiras na temporada de 2010 da Stock Car (Foto: Rafael Gagliano/Stock Car)

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